Nobel da Paz de 2025 é concedido a María Corina Machado, líder da oposição venezuelana: 'Estou em choque', diz
Velha conhecida da política venezuelana, a ex-deputada venceu por ampla margem as primárias da oposição, mas não pôde registrar sua candidatura à presidência por estar inabilitada politicamente por 15 anos. González Urrutia, então, a substituiu como candidato nas eleições presidenciais de julho do ano passado, mas a líder opositora encabeçou vários comícios eleitorais pelo país.
"Estamos em choque de alegria", disse González, que partiu para o exílio na Espanha pouco depois dos resultados eleitorais, que deram a vitória a Maduro, em uma votação apontada como fraudulenta pela oposição e por parte da comunidade eleitoral. A oposição, liderada por María Corina, publicou cópias dos registros das urnas em um site para comprovar a vitória de González sobre Maduro. Os chavistas rejeitam esses documentos.

'Estou em choque!', reage venezuelana María Corina Machado ao Nobel da Paz
No X, González publicou um vídeo em que afirma: "Merecidísimo reconhecimento à ampla luta de uma mulher e de todo um povo por nossa liberdade e democracia", acrescentando: "O primeiro Nobel à Venezuela!"
María Corina foi premiada “por seu incansável trabalho de promoção dos direitos democráticos para o povo da Venezuela e por sua luta para alcançar uma transição justa e pacífica da ditadura para a democracia”, anunciou o presidente do comitê, Jørgen Watne Frydnes.
Nascida em Caracas, em uma família conservadora e católica fervorosa, María Corina fundou em 2012 o partido Vem Venezuela e ficou conhecida por liderar a oposição mais linha-dura contra o então presidente Hugo Chávez. Com apoio antes limitado às classes mais altas do país e a parte dos venezuelanos no exílio, hoje os atos de María Corina reúnem centenas de apoiadores das classes populares, inclusive nos redutos chavistas, longe da capital.
Instituído em 1901, o Nobel da Paz é um dos cinco prêmios criados a partir do testamento do químico e industrial sueco Alfred Nobel (1833–1896), inventor da dinamite. Preocupado com os efeitos devastadores da guerra, Nobel determinou que parte de sua fortuna fosse destinada a premiar “a pessoa ou entidade que mais ou melhor tenha contribuído à aproximação dos povos, à supressão ou redução dos exércitos permanentes e à promoção de congressos pela paz”.
Neste ano, o valor do prêmio permanece em 11 milhões de coroas suecas (o equivalente a cerca de R$ 6,2 milhões), montante idêntico ao das edições de 2023 e 2024. Desde sua criação, o Nobel da Paz é concedido por um comitê de cinco membros nomeados pelo Parlamento da Noruega.
Ao longo de mais de um século, o prêmio já contemplou líderes políticos, organizações humanitárias e defensores dos direitos humanos, mas também foi alvo de polêmicas. Entre os episódios mais marcantes está o de 1973, quando o vietnamita Le Duc Tho recusou a honraria, alegando que a paz em seu país ainda não havia sido alcançada.
A Fundação Nobel, criada após a morte de seu fundador, administra o legado de Alfred Nobel — um patrimônio que, atualizado, equivale a cerca de R$ 1,25 bilhão. Desde então, a premiação tornou-se uma das mais prestigiadas do mundo, símbolo de reconhecimento àqueles que se dedicam ao avanço da humanidade.
Quem foram os últimos vencedores?
A vencedora de 2024 foi a organização japonesa Nihon Hidankyo, um movimento popular que representa sobreviventes dos bombardeios de Hiroshima e Nagasaki e advoga contra a proliferação de armas atômicas. A presidência norueguesa do comitê destacou o trabalho da organização em coletar depoimentos de sobreviventes para educar o público sobre os horrores causados por essas armas.
Em 2023, a jornalista iraniana Narges Mohammadi venceu o Nobel "por sua luta contra a opressão das mulheres no Irã e a promoção dos direitos humanos e da liberdade para todos". Seus filhos receberam o prêmio em seu nome, já que naquele momento ela estava na prisão. Após passar grande parte da última década detida, Mohammadi foi libertada provisoriamente em dezembro de 2024 por razões médicas da penitenciária de Evin, em Teerã, mas recentemente recebeu ameaças de morte e seus advogados alertaram várias vezes que ela poderia ser detida novamente a qualquer momento.
2022: Ales Bialiatski, Memorial e Centro pelas Liberdades Civis
Em 2022, já em meio à guerra na Ucrânia, o prêmio teve o conflito como pano de fundo. Os vencedores foram o ativista bielorusso Ales Bialiatski e as organizações de direitos humanos Memorial, da Rússia, e Centro pelas Liberdades Civis, da Ucrânia. Ales Bialitski ganhou o prêmio enquanto estava preso pelo regime de Alexander Lukashenko, por atuar no movimento pró-democracia em Minsk. Em março de 2023, ele foi condenado a 10 anos de prisão.
2021: Maria Ressa e Dmitri Muratov
Em 2021, os vencedores foram os jornalistas Maria Ressa e Dmitri Muratov, por seus esforços para salvaguardar a liberdade de expressão — a filipina é confundadora do Rappler, um site de jornalismo investigativo, enquanto o russo fundou o jornal Novaya Gazeta [Nova Gazeta], que se manteve crítico ao presidente russo, Vladimir Putin, apesar da perseguição à imprensa. Meses após a premiação, em junho de 2022, Muratov anunciou o leilão de sua medalha, prometendo reverter o lucro para o trabalho que o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) faz para ajudar crianças vítimas da guerra na Ucrânia.
2020: Programa Mundial de Alimentos da ONU
O Prêmio Nobel da Paz de 2020 foi concedido para o Programa Mundial de Alimentos (PMA) das Nações Unidas por seus esforços no combate à fome e pela necessidade de solidariedade e cooperação multilateral. Desde 1961, o PMA exerce papel central no combate à insegurança alimentar no planeta e é, hoje, a principal organização que trabalha pela erradicação da fome.
A Memorial foi fundada em 1987 por ativistas dos direitos humanos na antiga União Soviética, com o objetivo de garantir que "as vítimas da opressão do regime comunista nunca sejam esquecidas”. Seu fundador mais notório é Andrei Sakharov, o pai da bomba de hidrogênio soviética que mais tarde se tornaria um ativista pelo desarmamento nuclear — postura que lhe rendeu o Nobel da Paz em 1975. A Memorial foi fechada em 2021, após ser classificada como "agente estrangeiro", uma tipificação legal que carrega conotações ligadas à espionagem na Rússia. Já a organização ucraniana Centro para as Liberdades Civis tem como objetivo promover os direitos humanos e a democracia na Ucrânia.
Em 2019 foi a vez do primeiro-ministro etíope Abiy Ahmed, pelo acordo que pôs fim à guerra que seu país travava com a Eritreia. Meses depois, contudo, seu governo entraria em uma guerra civil com grupos separatistas na região de Tigré, no Norte do país. Em um raro movimento, o comitê norueguês criticou o premiado, em 2022, alegando que ele tinha "responsabilidade especial" em acabar com o conflito na região.
2018: Denis Mukwege e Nadia Murad
Os premiados de 2018 foram o ginecologista Denis Mukwege, da República Democrática do Congo, e a iraquiana da minoria yazidi Nadia Murad, que escapou de ser mantida como escrava sexual do Estado Islâmico, pelo engajamento de ambos na luta contra o emprego da violência sexual como arma de guerra.
2017: Campanha Internacional de Abolição de Armas Nucleares
Em 2017, a Campanha Internacional para Abolir as Armas Nucleares [ICAN, na sigla em inglês] recebeu o prêmio em função do trabalho de alertar para as "catastróficas consequências humanitárias" decorrentes do uso de arsenal nuclear e pelos esforços em alcançar a proibição desse tipo de armamento.
O ex-presidente colombiano, Juan Manuel Santos, ganhou o Nobel da Paz em 2016 por seus esforços para acabar com o conflito armado de mais de 50 anos no país com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc).
2015: Quarteto de Diálogo Nacional da Tunísia
Em 2015, o vencedor foi o Quarteto de Diálogo Nacional da Tunísia, por "sua contribuição decisiva para a construção de uma democracia pluralista na Tunísia, na esteira da Revolução de Jasmin de 2011". O grupo inclui quatro organizações: a União Geral Tunisiana do Trabalho (UGTT, um sindicato), a União Tunisiana da Indústria, do Comércio e do Artesanato (Utica, patronato), a Ordem Nacional dos Advogados da Tunísia (ONAT) e a Liga Tunisiana dos Direitos Humanos (LTDH).