Trump não ganha Nobel da Paz e Casa Branca reage: 'Nunca haverá ninguém como ele'; entenda escolha do Comitê
Pouco depois do anúncio, o diretor de comunicações da Casa Branca, Steven Cheung, postou no X que o presidente dos EUA "continuará fazendo acordos de paz, acabando com guerras e salvando vidas". O presidente "tem o coração de um humanitário, e nunca haverá ninguém como ele, capaz de mover montanhas com a força de sua vontade", escreveu Cheung.
O premier de Israel, Benjamin Netanyahu, que indicou Trump ao prêmio, declarou após o anúncio que o americano merece a honraria por "fazer a paz acontecer". "Os fatos falam por si só. O presidente Trump merece", escreveu nas redes sociais.
Por que Trump ficou de fora?
Trump, que desde o primeiro mandato busca ganhar a honraria, vinha se apresentando nas últimas semanas como um candidato natural ao prêmio, sobretudo após anunciar na segunda-feira um plano de paz para pôr fim ao conflito de dois anos na Faixa de Gaza. O republicano, que retornou à Casa Branca em janeiro, afirmou ter "encerrado várias guerras", ponto contestado entre especialistas, e buscava projetar sua imagem como pacificador global.
Apesar de vários grupos ou indivíduos — incluindo Netanyahu e os líderes do Paquistão e Camboja — terem afirmado que o indicaram neste ano, o prêmio concedido nesta sexta-feira foi destinado a homenagear conquistas em 2024 (o prazo final das indicações era 31 de janeiro, pouco após o retorno de Trump à Casa Branca). E o chefe do comitê disse que a decisão sobre o laureado deste ano havia sido tomada na segunda-feira, antes do acordo de cessar-fogo em Gaza. Isso não significa que Trump não possa concorrer novamente em 2026 por tais nomeações.
— Na longa história do Prêmio Nobel, esse comitê já viu todo tipo de campanha, de atenção da imprensa. Recebemos milhares de cartas a cada ano de pessoas que dizem aquilo que, para elas, conduz à paz — disse o presidente do comitê, Jorgen Watne Frydnes, ao ser questionado sobre o "não" a Trump. — Esse comitê se senta em uma sala cheia de retratos de todos os laureados e é uma sala cheia de coragem e integridade. Dessa forma, baseamos nossas decisões apenas no trabalho e na vontade de Alfred Nobel [criador do prêmio].
A pressão, porém, deve continuar no próximo ano, uma vez que terá havido tempo para avaliar se o acordo de paz em Gaza foi bem-sucedido.
Por sua vez, María Corina recebeu a honraria "por seu incansável trabalho de promoção dos direitos democráticos para o povo da Venezuela e por sua luta para alcançar uma transição justa e pacífica da ditadura para a democracia", anunciou o presidente do Comitê Nobel, Jørgen Watne Frydnes.
Uma das indicações que a opositora venezuelana recebeu veio por parte de Rubio, em carta assinada em conjunto com outros parlamentares no ano passado, após as contestadas eleições venezuelanas, das quais Nicolás Maduro foi proclamado vencedor pelo órgão eleitoral chavista. "Esperamos que o Comitê Nobel reconheça as contribuições notáveis de María Corina Machado e lhe conceda a distinção que ela merece", diz o documento.
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A busca pelo Nobel da Paz por Trump não vem de hoje. Ainda em seu primeiro mandato, quando negociava um acordo nuclear com a Coreia do Norte, em 2018, Trump disse a jornalistas que "muitas pessoas achavam que ele merecia" o Nobel. A iniciativa com os norte coreanos fracassou, mas a ideia do prêmio foi repetida à exaustão em encontros com líderes estrangeiros, falas na Casa Branca e palanques eleitorais — além do diálogo com Pyongyang, os Acordos de Abraão, que normalizaram as relações de alguns países árabes com Israel, foram usados como argumento para convencer o Comitê Norueguês do Nobel.
De maneira frequente, ele citava o exemplo de Barack Obama, que recebeu a honraria apenas nove meses depois de assumir o cargo, em 2009, mesmo sem grandes feitos à paz mundial.
Trump seguiu falando sobre o Nobel em suas campanhas à Casa Branca de 2020, quando foi derrotado por Joe Biden, e de 2024, quando venceu Kamala Harris e adotou o discurso de “grande pacificador”, hoje seu principal argumento.
— Eu impedi que guerras acontecessem, se fosse outra pessoa eles teriam dado cinco prêmios Nobel, eu não consegui sequer uma menção, e é assim mesmo, uma vez que sou um tipo diferente de pessoa, e as notícias falsas me mostram de uma forma bem diferente da realidade — disse a apoiadores em setembro do ano passado.
Ele repetiu o lamento em fevereiro, já de volta à Casa Branca, ao lado do premier israelense.
— Eles nunca me darão um Prêmio Nobel da Paz — disse. — É uma pena. Eu mereço, mas eles nunca me darão.
E na semana passada, diante de centenas de oficiais das Forças Armadas, disse que seria um "insulto" se não recebesse a honraria, o que fez com que muitos no governo da Noruega temessem algum tipo de retaliação ao país caso o nome do presidente americano não seja anunciado.
— Você receberá o Prêmio Nobel? — perguntou Trump a si mesmo, e então respondeu: — De jeito nenhum. Eles o darão a um sujeito que não fez absolutamente nada. Mas não receber o prêmio seria um grande insulto ao nosso país.
(Colaborou Filipe Barini)