Lula não gosta da iniciativa privada
O incorrigível Lula da Silva demonstrou mais uma vez seu desapreço pela iniciativa privada e o proverbial cacoete de transferir para os outros a responsabilidade por seus infortúnios. Por “outros”, leiam-se os empresários, o mercado financeiro, as elites, o Ocidente e quem mais o demiurgo decidir que é inimigo do povo e do Brasil.
Vendo-se confrontado no debate público e no Congresso pela ausência de uma política fiscal previsível e crível, que o governo tenta suprir com aumento de impostos, o presidente aproveitou uma cerimônia oficial, há alguns dias, para dizer que os empresários precisam deixar seus “interesses individuais de lado” e pensar no equilíbrio econômico do País, além de “cuidar” do Brasil, em vez de, ora vejam, “jogar a responsabilidade” no Congresso ou no governo.
Dessa forma, está claro que Lula não se sente obrigado nem mesmo a fingir que era para valer a tal “frente ampla” que ele urdiu na campanha eleitoral de 2022. Dando uma banana para os empresários que o apoiaram naquela eleição porque temiam uma ruptura democrática se o então presidente Jair Bolsonaro tivesse sido reeleito, Lula determinou que quem tem dinheiro está nas hostes inimigas, que os empresários não passam de antagonistas do Brasil, que as elites sem “espírito cristão” não pensam no País, no planeta e na vida, e que o governo lulopetista é o mais legítimo – se não o único – representante do povo trabalhador. Na teoria lulocêntrica, como se sabe, Lula está biologicamente integrado aos pobres e, portanto, toda a ordem que emanar desse líder será, por princípio, uma determinação do povo; logo, é uma afronta contrariar tal líder e suas ideias, e quem o faz está a serviço das elites.
E assim chegamos ao cerne deste terceiro mandato: Lula, cujo governo está nas cordas, está determinado a ressuscitar o raivoso líder sindical da década de 1980, que nunca deixou de ser, mas que as necessidades políticas o haviam obrigado a domesticar. Aquele personagem dizia e repetia que os empresários são inimigos da “classe trabalhadora”, não escondendo sua repulsa ao setor privado. A partir do nascimento de outro personagem, o “Lulinha paz e amor”, que os marqueteiros petistas inventaram em 2002 para finalmente ganhar uma eleição presidencial, Lula tentou se passar por moderado e pragmático. Na mais recente disputa, em 2022, conseguiu os votos de eleitores de centro ao se identificar como o líder da “luta pela democracia”, malgrado seja incapaz de condenar as ditaduras companheiras.
Não foi a primeira diatribe do gênero – e quanto mais se aproxima o período eleitoral num contexto de desaprovação popular, mais o presidente dobra a aposta do seu esquerdismo avesso à iniciativa privada, em qualquer de suas expressões, e de sua busca incansável por culpados externos. No ano passado, enquanto “inaugurava” o Comperj – o complexo petroquímico que virou um dos símbolos mais vistosos da trevosa era lulopetista que arruinou o País com sua gastança e sua corrupção –, Lula produziu uma pletora de ataques, desqualificando os empresários, que em sua definição seriam simplesmente incapazes de melhorar a vida dos brasileiros. A julgar por seus discursos, o setor produtivo deveria ser vinculado ao Estado, que seria um administrador mais sensível às reais necessidades do povo.
Para Lula, empresa privada boa é aquela que abre mão do lucro em favor de projetos do Estado – e o Estado, sabemos, é Lula, o presidente Sol. E empresário companheiro é aquele que não reclama de impostos e acredita na iluminação lulista. São mistificações como essas que fazem dele um dos demagogos mais perniciosos da história nacional.
Se estivesse empenhado em buscar apoio fora da seita lulopetista para recuperar a musculatura política perdida, talvez Lula resolvesse fazer o impensável: refletir com sua patota se a ausência do desejável equilíbrio econômico é fruto dos “interesses” egoístas de empresários, ou se, ao contrário, é culpa do enorme abismo que hoje separa o Brasil das ideias e práticas do lulopetismo. Mas seria esperar demais de quem só deseja aplauso e reconhecimento e se sente infalível em sua missão de salvar o Brasil.